Todos nós enfrentamos, com alguma frequência, provocações produzidas por nossos inimigos, amigos e até por pessoas indiferentes a nós. As provocações são expressas das mais variadas formas: críticas diretas e indiretas, insultos com ou sem palavrões, ameaças físicas ou verbais, ironias, zombarias diversas, demonstrações de força ou de poder e outras variedades de agressões.
O insultante tem como objetivo essencial provocar uma resposta negativa na pessoa-alvo, caracterizada por medo, raiva, desapontamento, sentimento de inferioridade ou de revide. Em outras palavras, o agressor espera uma resposta padronizada, ditada pelo modelo social, semelhante à manifestada por ele, o provocador.
Fico perplexo, em meu consultório, ao ouvir queixas dos meus clientes quanto às mais diferentes formas de se revidar uma agressão. Quase todos os agredidos - pasmem, caros leitores - dão exatamente as respostas desejadas pelo autor da ação. Respondem ao insulto com uma carga emocional negativa, com grande sofrimento físico e mesmo com alguma confusão mental. Na realidade, o agredido faz exatamente o “jogo” desejado pelo agressor.
Não sei explicar precisamente por que isso ocorre. Acredito que essa rigidez de resposta, essa falta de jogo de cintura tem origem cultural: foi aprendida como um valor a ser seguido. Costumo sugerir aos meus clientes revidarem à agressão com respostas diferentes das usuais e presumidas, recorrendo a “lances” inesperados, como sorrir para o agressor, olhá-lo sem nada dizer. Percebo, então, da parte deles, uma reação de quase indignação, pois, ao agir deste modo, de acordo com seus valores, estariam fazendo um papel de idiotas. A regra seguida é: “se sou agredido, devo ou preciso reagir da mesma maneira”. Quase nunca passa pelas mente das pessoas que é exatamente isso que o provocador deseja de nós: sentirmos raiva, como ele provavelmente está sentindo, ficarmos frustrados, enfim, sofrermos como nosso incitador.
O indivíduo pensa frequentemente que perderá seu amor próprio caso não reaja ao insulto, atacando o provocador através das mesmas técnicas utilizadas por ele. Ora, na verdade, se quisermos agradar ao nosso agressor, nada mais correto do que agir dessa maneira, pois assim o estamos recompensando. Porém, se o nosso desejo for o oposto, isto é, não entrar no seu “jogo”, o mais indicado será fazer exatamente o contrário do desejado e habitual.
Imaginemos uma cena comum de rua, onde o nosso carro é “fechado” e recebemos de lambuja alguns palavrões da nossa sexualidade ou de nossa progenitora. O que deseja o prezado motorista desafiador? Nada mais, nada menos, do que uma resposta à altura, expressada com os mesmos gestos, os mesmos tons de voz e até com os mesmos nomes feios. Imaginemos então um agredido não “ligado” na arte de brigar no trânsito, muito mais ativo do que reativo e mais dirigido por si mesmo do que pelos estranhos, ou seja, com respostas próprias e não controladas pelas pessoas que encontra. Ao dar uma resposta totalmente diversa da aguardada, nosso amigo colocará o brigão totalmente confuso. A pessoa pode, em lugar de revidar à agressão, apenas sorrir (ou não mudar a fisionomia), observar as notáveis contrações faciais do agressor, seguir o seu caminho sem nada dizer, ou até mesmo pedir-lhe desculpas, num tom de voz doce, por ter impedido o brigador de obter a primazia desejada. Existem outras respostas semelhantes. Tais respostas, diferentes das comumente aguardadas, quebrarão certamente a segurança do agressor, já que ele não esperava por aquela conduta e ao se deparar com o novo “lance”, não saberá como dar continuidade ao jogo.
Em resumo, aprenda a se livrar de antiquadas maneiras de agir usadas apenas por serem familiares e socialmente valorizadas, mas que são, na verdade, improdutivas, dolorosas e perigosas, levando a pessoa a ser, no momento da querela, dirigida pelo agressor, pelo indivíduo do qual gostaria de estar bem distante, talvez até vê-lo morto.
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Filipenses 4:8: Por fim, irmãos, todas as coisas que são verdadeiras, todas as que são de séria preocupação, todas as que são justas, todas as que são castas, todas as que são amáveis, todas as coisas de que se fala bem, toda virtude que há e toda coisa louvável que há, continuai a considerar tais coisas.